A Epístola aos Romanos foi escrita pelo apóstolo Paulo por volta do ano 57 d.C., durante sua terceira viagem missionária, enquanto estava em Corinto (Atos 20:2-3). Essa carta é considerada uma das mais importantes do Novo Testamento, pois apresenta uma exposição detalhada sobre a justificação pela fé, a graça de Deus e a salvação tanto para judeus quanto para gentios.
Paulo escreveu aos cristãos de Roma, uma igreja que ele ainda não havia visitado, com o objetivo de fortalecer a fé deles e esclarecer questões fundamentais do evangelho. Além disso, ele desejava preparar o caminho para uma futura visita à cidade e buscar o apoio dos irmãos romanos para levar o evangelho ainda mais adiante, até a Espanha (Romanos 15:23-24).
A vontade de Paulo de pregar na Espanha revela seu compromisso com a missão de levar a mensagem de Cristo aos lugares mais distantes. Na época, a Espanha era considerada o extremo do mundo conhecido pelos romanos, e evangelizá-la significava cumprir plenamente sua vocação apostólica. Para isso, ele via a igreja de Roma como um possível ponto de apoio para sua jornada missionária.
Dessa forma, a Carta aos Romanos não apenas apresenta doutrinas essenciais da fé cristã, mas também reflete o coração missionário de Paulo, seu desejo de edificar os crentes em Roma e sua visão de expansão do evangelho para além das fronteiras do Império Romano.
Nos primeiros 15 versículos, Paulo faz a introdução da carta, apresentando-se, declarando o evangelho que ele prega e expressando seu desejo de visitar os cristãos em Roma. Vamos analisar versículo por versículo:
.
Romanos 1:1 — “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus,”
Paulo inicia a carta se identificando como “servo de Jesus Cristo“. A palavra “servo” aqui, no grego doulos, significa “escravo”, indicando completa submissão à vontade de Cristo. Ele também menciona seu chamado apostólico e sua separação para pregar o evangelho. Essa separação não foi apenas uma escolha pessoal, mas um chamado divino (Atos 9:15-16).
.
Romanos 1:2 — “o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Escrituras Sagradas,”
Aqui, Paulo afirma que o evangelho não é algo novo, mas já havia sido anunciado pelos profetas do Antigo Testamento. Passagens como Isaías 53 e Jeremias 31:31-34 apontam para a vinda do Messias e o novo pacto em Cristo.
.
Romanos 1:3 — “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi,”
Este versículo enfatiza a humanidade de Jesus. Ele nasceu como descendente de Davi, cumprindo as profecias messiânicas (2 Samuel 7:12-16; Jeremias 23:5-6). Isso demonstra que Cristo é o legítimo herdeiro do trono de Israel.
.
Romanos 1:4 — “e foi declarado Filho de Deus com poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor,”
Se no versículo anterior Paulo destacou a humanidade de Cristo, agora ele evidencia Sua divindade. Jesus foi declarado Filho de Deus com poder, e a maior prova disso foi Sua ressurreição. O Espírito Santo foi quem operou esse poder vivificante (Romanos 8:11).
.
Romanos 1:5 — “por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência da fé entre todos os gentios,”
Paulo enfatiza que sua missão como apóstolo não foi mérito próprio, mas um chamado gracioso de Deus. O objetivo era levar os gentios à obediência da fé, ou seja, uma fé genuína que se manifesta em submissão a Deus.
.
Romanos 1:6 — “de cujo número sois também vós, chamados para serdes de Jesus Cristo,”
Os cristãos de Roma fazem parte desse plano divino, chamados a pertencer a Cristo. Aqui, Paulo reforça que tanto judeus quanto gentios estão incluídos no propósito redentor de Deus.
.
Romanos 1:7 — “a todos os amados de Deus que estais em Roma, chamados para serdes santos: Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.”
Paulo se dirige aos cristãos em Roma como “amados de Deus” e “chamados para serem santos”. A santidade aqui não se refere a uma perfeição moral, mas ao fato de terem sido separados para Deus. Ele saúda os leitores com “graça e paz”, uma combinação das tradições judaica e grega, indicando que a verdadeira paz vem da graça de Deus.
.
Romanos 1:8 — “Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque em todo o mundo é proclamada a vossa fé.”
Paulo começa expressando gratidão pela fé dos cristãos romanos, que era conhecida em muitas partes do mundo. Isso mostra que, mesmo sem a presença de um apóstolo em Roma, a igreja cresceu e se destacou.
.
Romanos 1:9 — “Porque Deus, a quem sirvo no meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós,”
Paulo declara que constantemente ora pelos cristãos de Roma. Ele serve a Deus de todo o coração e vê a oração intercessora como parte essencial de seu ministério.
.
Romanos 1:10 — “suplicando sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir até vós.”
Paulo revela seu desejo de visitar Roma. Ele entende que isso só acontecerá no tempo e na vontade de Deus. Anos depois, ele realmente chega a Roma, mas como prisioneiro (Atos 28:16).
.
Romanos 1:11 — “Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados,”
O desejo de Paulo não era apenas ver os irmãos, mas edificá-los espiritualmente. Os dons espirituais que ele menciona não são especificados, mas podem estar ligados a ensino, exortação e fortalecimento na fé.
.
Romanos 1:12 — “isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha.”
Aqui Paulo mostra sua humildade. Embora seja um apóstolo, ele reconhece que também pode ser edificado pela fé dos cristãos em Roma. Isso reforça a importância da comunhão na igreja.
.
Romanos 1:13 — “Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido até agora impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os demais gentios.”
Paulo já havia tentado visitar Roma, mas foi impedido. Seu desejo era colher frutos espirituais entre os cristãos romanos, assim como já havia feito entre outros gentios.
.
Romanos 1:14 — “Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes;”
Paulo se vê como um “devedor” do evangelho a todas as pessoas, independente da cultura ou posição social. O termo “gregos e bárbaros” se refere a todas as nações do mundo, mostrando que o evangelho é universal.
.
Romanos 1:15 — “por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma.”
Paulo conclui essa introdução reafirmando seu compromisso de pregar o evangelho em Roma. Ele está “pronto”, ou seja, disposto e preparado para cumprir essa missão.
.
Resumindo Romanos 1:1-15:
- Se apresenta como apóstolo e servo de Cristo.
- Explica que o evangelho já havia sido prometido no Antigo Testamento.
- Destaca a humanidade e a divindade de Cristo.
- Enfatiza que os cristãos romanos fazem parte do chamado de Deus.
- Demonstra seu desejo de visitar Roma para edificar a igreja.
- Reafirma sua obrigação de pregar o evangelho a todas as nações.
.
Este trecho reflete o zelo missionário de Paulo e a centralidade do evangelho na sua vida. Ele nos ensina sobre a importância da fé, da comunhão entre os crentes e da pregação do evangelho a todas as pessoas.
.